O mercado de serviços de beleza representa uma das áreas mais expressivas do franchising brasileiro.
Este segmento, abrangendo salões de beleza, manicures, esmalterias e outros serviços pessoais, tem se destacado significativamente pela sua capacidade de atrair empreendedores e clientes em igual medida.
No entanto, apesar do potencial de crescimento e lucratividade, a escolha da localização é uma das maiores dores de cabeça para quem visa abrir uma franquia nesta área.
Muitas empresas se apoiam em ferramentas de geomarketing para identificar onde seus clientes estão.
Embora essas ferramentas sejam úteis, é crucial entender as dinâmicas da cidade e não se limitar apenas aos dados.
A localização é um fator crítico que, se negligenciado, pode ser responsável por até 50% das falências empresariais nos primeiros cinco anos, segundo dados do Sebrae.
Não a toa, grandes marcas do varejo no Brasil e no exterior tem equipes multidisciplinares que cuidam de sua expansão, não sendo incomum a presença de urbanistas, justamente para entender as dinâmicas urbanas e entender o que analisar nas cidades.
Portanto, antes de decidir a localização, é fundamental conhecer quem é o público alvo da franquia.
Para serviços pessoais, os clientes geralmente buscam conveniência, seja perto de casa ou do trabalho.
Para isso, posso traçar dois cenários gerais a se considerar: serviços que demandam mais tempo e agregam mais valor, e serviços expressos com menor valor agregado.
No primeiro cenário, a localização próxima à residência dos clientes é essencial, especialmente para serviços que demandam mais tempo e têm um valor agregado maior.
Quando estudei urbanismo, tínhamos uma autora que era a leitura base de qualquer cadeira de urbanismo, Jane Jacobs, com sua obra seminal “Morte e vida de grandes cidades”, onde ela afirmava que a vitalidade e a segurança das ruas urbanas são fundamentais para o desenvolvimento de comunidades prósperas.
Jacobs defende que bairros mistos, que combinam residências, comércios e serviços, promovem uma maior interação social e conveniência para os moradores, e esta lógica é perfeita quando pensamos em serviços de estética.
Aplicando os princípios da autora, escolher uma localização em um bairro residencial com ruas comerciais ativas pode ser vantajoso.
Essas áreas tendem a oferecer a visibilidade e o acesso necessários para atrair clientes.
Bom, esse é o cenário ideal, mas a maioria das cidades brasileiras são bem diferentes, com bairros de baixa densidade e poucos serviços, tornando essa tarefa mais desafiadora, tornando a presença de estacionamento e a facilidade de acesso cruciais.
Locais com uma boa mistura de serviços complementares, como farmácias e clínicas, enriquecem o ecossistema local, tornando o ponto comercial mais atraente para os clientes.
Para serviços rápidos e expressos, a localização ideal está em áreas com alta concentração de atividades profissionais, onde os clientes potenciais estão durante seu horário de trabalho.
Neste contexto, a teoria de Jacobs sobre a importância do “ballet das calçadas” revela-se pertinente.
Ela argumenta que a diversidade de usos ao longo do dia mantém as ruas vibrantes e seguras.
Portanto, vias com um alto fluxo de pedestres, próximo a escritórios, consultórios e estabelecimentos de advocacia, oferecem uma excelente oportunidade para serviços de beleza expressos.
Pode parecer básico, mas muitas destas coisas passam batido quando avaliamos apenas dados duros em uma plataforma de geomarketing, e muitos gerentes de expansão novatos podem acabar deixando isso passar batido.
Além disso, urbanistas como William H. Whyte destacaram a importância dos espaços sociais e da acessibilidade em “The Social Life of Small Urban Spaces”.
A presença de restaurantes, bares e lojas de vestuário em uma área não só aumenta o tráfego de pessoas, mas também a probabilidade de que esses transeuntes se tornem clientes.
Observar a dinâmica do local e a concentração de serviços pode ajudar a identificar vias com potencial para atrair um público que busca conveniência e rapidez.
Porém, você pode estar se perguntando “e como ficam os Shoppings?”.
A respeito destes empreendimentos, especialmente no contexto de serviços de beleza, requer uma compreensão das tendências globais e locais que moldam o futuro desses empreendimentos.
Nos Estados Unidos, país considerado o berço dos shopping centers modernos, observa-se um declínio desses espaços, fenômeno frequentemente descrito como o “retail apocalypse”.
Fatores como o crescimento do comércio eletrônico, mudanças nos hábitos de consumo e a busca por experiências mais autênticas e personalizadas têm contribuído para esse declínio.
Empresas icônicas de varejo têm fechado suas portas, e muitos espaços de shopping estão sendo repensados ou reutilizados para outros fins.
No Brasil, os shopping centers também estão passando por transformações, embora o cenário seja um pouco diferente.
A cultura do shopping como espaço de lazer e entretenimento permanece forte, mas há uma tendência crescente de evoluir de meros centros de conveniência para locais que oferecem experiências únicas e diferenciadas aos visitantes.
Isso inclui a incorporação de áreas de lazer mais amplas, espaços gastronômicos diversificados, eventos culturais e outras atrações que buscam enriquecer a experiência do consumidor.
Para negócios de serviços de beleza localizados em shopping centers, essa mudança de foco para a experiência pode ter implicações significativas.
Em primeiro lugar, a ênfase na experiência pode aumentar a atratividade desses serviços, uma vez que complementam a proposta de valor dos shoppings como destinos de lazer e bem-estar.
Por outro lado, a concorrência dentro dos próprios shoppings pode se intensificar, à medida que mais operadores buscam capitalizar sobre essa
Além disso, a localização dentro do shopping deve ser cuidadosamente considerada.
Serviços de beleza podem se beneficiar estando próximos a áreas de alto tráfego, como entradas principais, praças de alimentação ou perto de grandes lojas âncora, que naturalmente atraem mais visitantes.
No entanto, o custo associado a essas localizações privilegiadas pode ser proibitivo para pequenos operadores, levando à necessidade de encontrar um equilíbrio entre visibilidade, acessibilidade e viabilidade financeira.
Logo, podemos perceber, que para localizar um negócio de serviços de beleza requer um conhecimento profundo, não apenas da marca que estamos escolhendo, através de uma análise cuidadosa e multifacetada, integrando tanto o conhecimento profundo do público-alvo da marca, como também uma compreensão das complexas dinâmicas urbanas da cidade em foco.
Além de decifrar quem é o cliente e suas expectativas, é imperativo mergulhar nas particularidades da cidade, desde o ritmo das ruas até as variações de movimento devido a padrões diários e sazonais.
A sabedoria urbana, como destacado por Jane Jacobs, ressalta a importância de observar a vida nas ruas para entender as interações entre espaços e indivíduos, fundamentando a escolha da localização em uma análise holística da vida urbana.
Portanto, uma localização bem escolhida não apenas atende às necessidades diretas dos clientes, mas também se entrelaça harmoniosamente com o tecido social e econômico da cidade, maximizando as chances de sucesso do empreendimento.
A integração de um entendimento profundo tanto do cliente quanto das características únicas da cidade é, assim, essencial para a sustentabilidade e prosperidade de negócios de serviços de beleza.
*Francisco Maraschim Zancan é arquiteto e urbanista formado pela UFRGS com especialização em marketing e comunicação. Atualmente é CEO da Space Hunters empresas especialista em localização de pontos comerciais e já auxiliou mais de 1500 clientes em 18 países nos últimos anos.
Fonte: Space Hunters