O jeito 'Wizard' de comandar empresas que valem R$ 3 bi

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O jeito ‘Wizard’ de comandar empresas que valem R$ 3 bi

21/02/2018

A sala de reuniões em que Carlos Wizard Martins e os filhos gêmeos Lincoln e Charles Martins recebem o Valor é sóbria, seguindo o estilo dos donos do Grupo Sforza, gestora de investimentos da família Martins. O ar condicionado só é ligado durante o tempo da entrevista. Carlos chega primeiro com Lincoln; Charles aparece alguns minutos depois, vindo de um compromisso anterior.

 

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Apesar de ser o último a chegar, Charles é o mais falante do trio e responde boa parte das perguntas destinadas ao presidente do Grupo Sforza e seu irmão gêmeo, Lincoln.

Carlos, sempre eloquente e formal nas entrevistas, deixa para os filhos a responsabilidade de responder a maioria das perguntas. “Por ser o fundador e o patriarca, me preocupo em não assumir uma posição dominante. Procuro entender o que cada um propõe, em vez de fazer valer apenas a minha vontade”, disse Carlos, insinuando um clima de harmonia na gestão.

Como toda grande empresa familiar, o Grupo Sforza tem no seu fundador a figura mais forte, ainda que os filhos ganhem cada vez mais relevância nos negócios.

A história de Carlos Wizard Martins começou em 1987, quando fundou a escola de inglês Wizard. Seu método de ensino, em oito semanas, foi aprendido com os mórmons, na Igreja dos Santos do Últimos Dias, da qual é seguidor.

Ao longo dos anos, além de formar a rede de escolas Wizard, Carlos adquiriu outras empresas de educação, criando o Grupo Multi. Dono das redes Wizard, Yázigi, Skill, Alps, SOS Computadores e Microlins, o grupo chegou a ter 50 mil empregados e 1 milhão de alunos. Wizard cogitou abrir o capital do grupo. Mas, em dezembro de 2013 decidiu vender o grupo para a britânica Pearson, por R$ 1,95 bilhão.

Carlos pretendia tirar um ano sabático. Porém, oito meses após a venda do grupo foi convencido pelos dois filhos a voltar ao mercado de franquias. Em 2014 comprou o Mundo Verde e formou o Grupo Sforza, para administrar o capital da família.

De 2014 a 2017, a lista de empresas no portfólio da família saltou para 14. Juntas, têm valor de mercado estimado pelo grupo de R$ 3 bilhões, excluindo as operações do KFC e da Pizza Hut. “O que levei 27 anos para construir da primeira vez foi superado em três anos”, afirmou Carlos, comparando os grupos Multi e Sforza.

Wizard mantém uma gestão conservadora dos negócios. O grupo diversifica ao máximo os investimentos e prefere apostar em franquias, que exigem menos capital do que uma fábrica ou uma rede de varejo própria. “É um grupo muito profissionalizado e que executa bem suas estratégias de expansão de redes de franquia, gerando rentabilidade para os franqueados e a família”, afirmou André Friedheim, vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF).

No Grupo Sforza, sediado em Campinas (SP), Lincoln Pimentel Martins, 38 anos, atua como presidente executivo, Ele é formado em Economia pela Brigham Young University, de Utah (Estados Unidos), com MBA em gestão comercial e administrativa pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Também cursou MBA em marketing pela Ohio University. Antes de comandar o Sforza, Lincoln também presidiu a divisão de educação e participou do processo de venda da companhia.

Lincoln é considerado por pessoas próximas um sujeito racional e detalhista com números. Além de presidir o Grupo Sforza, Lincoln assumirá a holding, ainda sem nome, que concentrará os negócios de alimentação da família, que incluem as redes Taco Bell Brasil, KFC e Pizza Hut.

O irmão-gêmeo Charles Pimentel Martins é membro do conselho de administração do grupo e presidente da Mundo Verde. Charles também responde pelos negócios de esportes da família – a ProSports, de escolas de futebol, e a BR Sports, de marcas esportivas. Formado em Administração e Finanças Públicas pela Harvard University, Charles é mais atuante na prospecção de negócios. Ele também foi responsável pela criação do Social Bank, fintech que oferece conta digital para pessoas físicas sem conta bancária.

“Tive a felicidade de ter filhos que se identificaram com a atividade. Eu tinha receio da concorrência entre os irmãos, por serem gêmeos, mas vi, na verdade, uma grande complementaridade entre eles. Cada um assume uma área e confio plenamente na execução”, diz Carlos. O empresário tem dado mais atenção ao negócio de alimentação e à Aloha, empresa especializada na venda porta a porta de cosméticos e óleos essenciais. Este negócio foi criado por Carlos e suas filhas Priscila Bertani (29 anos) e Thais Martins Fernandes (31 anos). Ele tem seis filhos.

Recentemente, os filhos adotivos Nicholas (20 anos) e Felipe (18 anos) deram os primeiros passos no grupo. Atualmente, trabalham em uma unidade da Taco Bell fazendo lanches. “Os filhos mais velhos também começaram a trabalhar com 17 anos e eram remunerados pelas atividades que faziam. Trabalho para forma-los, também para serem futuros executivos do grupo”, afirmou Carlos.

A gestão feita por Charles e Lincoln ainda é acompanhada de perto pelo pai. Uma vez por semana, os três se reúnem para discutir o andamento dos negócios e definir diretrizes para as equipes, que hoje reúnem em torno de 1,5 mil pessoas.

Além das reuniões semanais, os executivos se falam constantemente, mesmo quando estão viajando para diferentes destinos. “Não preciso esperar mais que cinco minutos para ter uma resposta deles se algum de nós está fora, viajando. Ficamos os três conectados, simultaneamente”, afirma Carlos Wizard.

A média de trabalho dos três executivos é de 70 horas por semana. Mesmo durante a entrevista ao Valor, enquanto um executivo respondia uma pergunta, os outros dois tomavam decisões usando seus smartphones. Na sessão de fotos, entre um clique e outro, os três repassavam agendas e ações a executar no dia.

Além da família, a administração do grupo conta com executivos experientes. Charles Martins diz que a escolha desses executivos já é feita antes mesmo da compra do negócio: “Não trabalhamos com banco, nem consultoria para fazer as aquisições. Geralmente trazemos para a empresa um consultor ou especialista que seja um notável no segmento, para fazer a análise das empresas. E esse profissional acaba se tornando um conselheiro responsável pela empresa ou setor”.

Alexandre Brito, presidente da Hub Fintech, é um exemplo. O executivo passou dez anos na Mastercard, onde atuava como vice-presidente de desenvolvimento de mercado para o Cone Sul. Já Rodrigo Borges, atual presidente do Social Bank, era responsável pela operação on-line do Magazine Luiza antes de entrar para o Grupo Sforza. Daniela Heldt, atual diretora de operações da Mundo Verde, trabalhou antes por cinco anos na Farmais como gerente de operações.

Depois que compram uma empresa, Carlos, Charles e Lincoln contratam pessoas que vão cuidar da direção do novo negócio e esses profissionais montam seu time de gestão. Não há membros da família na direção das empresas. “Essa é uma forma de atuação que tem dado certo até o momento”, diz Charles.

Para entrar no foco de aquisição do Grupo Sforza, disse o executivo, a empresa precisa ter, antes de tudo, um potencial de rápida expansão por meio de franquias. O grupo também valoriza companhias com receita recorrente, capital leve e margens de lucro altas, ou com potencial de ganhos de eficiência. “É importante que a companhia seja líder na sua área de atuação ou que apresente uma vantagem competitiva única na sua categoria”, acrescentou Charles.

Lincoln, que chama o pai de Carlos, observa que a Mundo Verde foi escolhida, em 2014, por liderar a área de varejo de produtos naturais com lojas em todo o país. Além disso, sua vendas cresciam acima de 10% ao ano nos cinco anos anteriores à compra. “No caso da Taco Bell, teve um aspecto emocional. O Carlos é apaixonado por comida mexicana. Mas também ele viu uma oportunidade única, porque não havia redes de comida mexicana nas praças de alimentação de shopping centers”, disse Lincoln.

Preço, segundo Charles, não é um problema. “O valor da marca é mais considerado do que o preço em si da empresa”. O executivo prefere não comentar sobre aquisições em vista. “Se o grupo fala que está interessado em uma área, os preços dos ativos já sobem.”

Carlos Wizard acrescentou que o grupo não costuma apenas comprar, mas também abrir negócios que considera ter potencial de crescimento rápido. Ele citou como exemplos de negócios recém-criados pelo grupo, o Hub Prepaid, o Social Bank e a Aloha.

Wizard considera, na montagem de seu portfólio de empresas, negócios que demandem diferentes níveis de investimento dos franqueados. “Para abrir uma Taco Bell é preciso um investimento inicial de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão. No Mundo Verde, são R$ 350 mil a R$ 500 mil. A Wise Up demanda investimento de R$ 200 mil a R$ 300 mil. Na Aloha, o empreendedor pode começar com investimento de R$ 1 mil a R$ 2 mil”, comparou. Wizard prevê fechar o ano com 50 mil revendedores da marca no país.

Para o longo prazo, o Grupo Sforza prepara pelo menos três de seus negócios para uma abertura de capital em bolsa: o negócio de restaurantes, a área de educação e a área de meios de pagamento.

“Atualmente, entre as companhias do grupo, estão em uma fase mais avançada para um futuro IPO a Hub Prepaid, a Wiser e o braço de alimentação”, afirmou Lincoln. Ele fez questão de observar que abrir o capital não é uma meta, mas algo que pode ocorrer naturalmente.

O executivo acrescentou que a abertura de capital em bolsa é vista como uma ação para daqui a três ou quatro anos.

A Hub Prepaid, surgiu em 2012 como Vale Presente e hoje é uma holding que reúne seis empresas das áreas de meios de pagamentos, informações de crédito, vales-presente, cartões corporativos e cartões de benefícios. São elas: Hub Card, Hub Fintech, Hub Risk, Vale Presente, PayPaxx e Master Alimentação.

A Hub Prepaid reúne em torno de 5 mil clientes empresariais, incluindo BNDES, Caixa Econômica Federal, Itaú, Magazine Luiza, Walmart, 99 e Uber. Em 2017, a holding movimentou R$ 10,5 bilhões e dobrou de tamanho em relação a 2016. Para este ano, o plano é expandir a operação para Chile, Colômbia e México. Com investimentos de R$ 150 milhões, a companhia é avaliada em pouco mais de R$ 1 bilhão.

A Wiser Educação é outro negócio que o executivo vê com mais potencial de IPO. A holding Wiser Educação foi formada em 2017 após a compra de 35% da rede de idiomas Wise Up e da aquisição da rede Number One. A Wiser Educação também inclui a escola de negócios on-line MeuSucesso.com. A holding reúne atualmente 400 unidades e tem como meta chegar a 1 mil unidades até 2020. Essa expansão será feita com abertura de unidades de franquia e aquisições. A receita da Wiser ficou em torno de R$ 400 milhões em 2017. O negócio tem valor de mercado estimado em R$ 600 milhões.

O Grupo Sforza também vê potencial para tornar o seu braço de alimentação uma operação de capital aberto no futuro. Em 2016, o grupo trouxe para o país a marca americana Taco Bell, abrindo 20 lojas próprias em 15 meses. No ano passado, a Taco Bell Brasil ganhou o direito de franquear a marca no país. O negócio atingiu no ano passado um faturamento de R$ 65 milhões e um valor de mercado de R$ 275 milhões. Em janeiro deste ano, o grupo também fechou acordo com a Yum! Brands, maior empresa de restaurantes do mundo, para assumir as operações das marcas Pizza Hut e KFC no Brasil.

Juntas, as três bandeiras possuem 250 lojas no país. A meta do grupo é ampliar o número de lojas no país para 1,5 mil unidades até 2028, das quais 100 serão abertas neste ano. Lincoln Martins disse que pretende reunir o negócio de alimentação em uma holding neste ano.

Lincoln disse que a abertura de capital traz vantagens, mas também desvantagens para o grupo. “É preciso abrir os números da empresa quando se está competindo com companhias privadas, que não divulgam seus números. No IPO [oferta inicial de ações], você acaba ajudando a concorrência”, afirmou. O Grupo Sforza não divulga, por exemplo, de quanto capital dispõe para investir.

Ele acrescentou que o Grupo Sforza não pretende fazer IPO só para captar dinheiro. “O IPO tem que servir a um propósito de longo prazo das empresas. Veja o caso das construtoras, muitas abriram o capital, sofreram pressão para crescer de forma acelerada e hoje estão em dificuldades”, observou.

Charles disse não considerar bom abrir o capital do próprio Grupo Sforza. “O preço de uma holding na bolsa sofre descontos. Não vejo com bons olhos fazer isso no Brasil”, disse.

Em relação ao país, Carlos disse que não considera o cenário macroeconômico para tomar suas decisões de negócios. “A situação política é que gera impacto na economia. Com a decisão recente de condenação do Lula em segunda instância, imediatamente a bolsa teve alta recorde e o dólar caiu. isso aumenta a confiança do investidor estrangeiro. Espero nesta eleição uma guinada para um país mais liberal, seria melhor para o Brasil”, afirmou.

Para Lincoln, os indicadores macroeconômicos apontam para uma melhora da economia brasileira, o que pode favorecer o desempenho das empresas do grupo. “Acredito que o país vai crescer e é importante que as empresas tenham confiança no crescimento do país para levar os planos adiante”, afirmou.

Valor Econômico – Cibelle Bouças – 09/02/2018

 

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