CEOS de grandes empresas falam sobre a igualdade nos negócios

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igualdade nos negócios

Como aumentar a liderança feminina nas empresas

18/12/2017

CEOs de grandes companhias brasileiras e empreendedoras dão dicas para promover a igualdade de gênero no mundo dos negócios

Barack Obama declarou recentemente que o mundo deveria concentrar-se em colocar mais mulheres em cargos de liderança, especialmente num momento em que há um grande clamor contra os abusos sexuais cometidos dentro das empresas. O ex-presidente norte-americano acredita que, de maneira geral, as mulheres levam vantagem quando o assunto é relacionamento interpessoal.

“Eu brinco que nós, mulheres, somos 50% da população e mãe dos outros 50%. Acho que temos, sim, esse lado de acolhimento e cuidado com o outro mais aflorado”, acredita Sônia Hess, ex-presidente da camisaria catarinense Dudalina.

Embora a competência profissional seja um conjunto de conhecimentos adquiridos, experiência e personalidade, que nada tem a ver com gênero, o número de mulheres que ocupam cargos de liderança nas empresas ainda é baixo.

Os dados mais recentes da pesquisa global Women in Business, que ouviu mais de 5 mil executivos das 36 principais economias mundiais, apontaram que 25% dos cargos de CEOs de empresas internacionais são ocupados por mulheres. No Brasil, são 16%. Apesar deste número crescer ano a ano, está longe de refletir igualdade nos negócios.

Um dos fatores negativos, segundo Mônica Herrero, CEO da Stefanini Brasil, é a tendência das empresas de basearem suas escolhas mais em hábito do que em análise de competências técnicas e comportamentais. “Na maioria das organizações, é mais fácil preencher as vagas de liderança com pessoas parecidas com as que já ocupavam as posições anteriormente, o que muitas vezes significa decidir por um homem em vez de uma mulher.”

Já a norte-americana Cindy Haring, presidente da DHL Global Fowarding Brasil, acredita que outra dificuldade é o fato de as mulheres precisarem se esforçar duas vezes mais para conquistar espaço dentro das empresas. “Não é justo, mas se a gente ficar só lamentando, não conseguimos conquistar nada”, acredita.

Gênero importa?

A advogada Rosely Cruz é um nome de peso no meio jurídico. Além de ex-presidente jurídica do Buscapé e sócia-fundadora do escritório de advocacia Neolaw, é fundadora do Instituto Brasileiro de Administração Judicial e do LENT – Laboratório de Empresas Nascentes em Tecnologia. Apesar do currículo robusto, ela declara que muitas vezes teve sua competência questionada somente por ser mulher.

Um dos casos mais emblemáticos ocorreu há pouco menos de cinco anos, quando a Neolaw disputava um cliente de peso. Determinada, ela estudou seu interlocutor e a empresa com afinco. Na reunião, sentou-se em frente ao executivo, que demorou mais de 15 minutos para começar a conversa. “Eu achei estranho, mas depois de um tempo comecei falar sobre os negócios. Ele me interrompeu e perguntou se a gente não iria esperar o sócio”, relembra. “Eu me senti agredida, quis xingar, mas respirei fundo. Respondi que eu era a fundadora. Percebi que aquele era o momento de mostrar que o resultado vem pela competência e não pelo gênero.” O resultado foi feliz: ela ganhou o cliente e, depois que a roupa suja foi lavada, um amigo.

“Mesmo quando estava no Buscapé tive que lutar para mostrar que é possível uma mulher ser executiva, ocupar uma posição de liderança e falar de igual para igual”, relata ela. “O machismo é histórico. E contra a História a gente não pode lutar, mas pode aprender”.

Como contribuir para que relatos como estes se tornem cada vez mais raros? O que é preciso para superar o desafio de aumentar a representatividade nas empresas e estimular mais lideranças femininas? Para encontrar alguns caminhos para essas questões, a NEGÓCIOS conversou com estas e outras CEOs e empreendedoras para levantar algumas dicas. Confira a seguir:

Angela Hirata, presidente da Japan House

Quando assumiu a direção de comércio internacional da Alpargatas, nos anos 1990, Angela era a única mulher em posição de liderança da empresa. Sem se deixar intimidar, ela trabalhou duro para transformar a Havaianas num produto internacional vendido em mais de 80 países.

“Apesar de ser a única mulher, eu tive muito apoio na Alpargatas e sei que abri as portas para que mais mulheres ascendessem dentro da empresa”, revela ela, que aos 73 anos é presidente da Japan House, espaço instalado na Avenida Paulista, em São Paulo, com o objetivo de divulgar arte, tecnologia e cultura japonesa.

Segundo Angela, ter metas claras e alinhamento foram características fundamentais para seu crescimento profissional. “Eu sempre defini uma meta pessoal do que quero ser e de onde quero chegar.” Para Angela, os preconceitos começam dentro de nós mesmos. “Por isso, seja você mesma, escolha uma boa equipe de trabalho e certifique-se de vocês falam a mesma língua e lutam pela mesma meta.”

Rosely Cruz, sócio-fundadora da Neolaw

A advogada se diz surpresa com a quantidade de mulheres com quem convive que tentam “se moldar” para conquistar determinado objetivo — ela luta pelo autoempoderamento. “A dica que eu dou é não olhar se o seu interlocutor é homem ou mulher. Eu digo para mim mesma que é possível, que eu consigo. Acordo dançando, uso música, pensamento, vibrações, qualquer coisa para me empoderar.”

Sylvia Brasil Coutinho, CEO do banco suíço UBS no Brasil

Mobilidade foi fundamental para que a executiva construísse uma carreira de sucesso, que começou a ser impulsionada com a expatriação para os Estados Unidos. Como sempre teve o desejo de constituir uma família, ela relata que o apoio de seu marido foi determinante. “Ele me acompanhou em tudo, nunca fui tolhida de nenhuma oportunidade. Por isso, uma das dicas que dou é escolher bem o seu parceiro.”

 

Apoio e flexibilidade são, muitas vezes, fatores determinantes para a vida profissional de mulheres, que não raro abdicam ou postergam a maternidade em prol da carreira — ou o contrário. “Há muitos casos de mulheres supercompetentes que, por falta de apoio, largam o emprego para conseguir tempo para os filhos. As pessoas não deveriam ser forçadas a escolher um ou outro”, diz.

Além disso, ela defende a busca por conhecimento e estudos para conseguir excelência. “Isso não está restrito às mulheres, mas vivemos num mundo em que temos de estar nos reciclando o tempo inteiro. Ainda vivemos num tempo em que a frase em inglês que diz que ´women have to do twice as men to be recognized` [mulheres fazem o dobro para serem reconhecidas] ainda é uma verdade”.

Cindy Haring, presidente da DHL Global Forwarding Brasil

A americana expatriada no Brasil não acredita em barreiras que não possam ser transpassadas com perseverança. “A verdade é que muitas vezes nós temos de provar mais, mostrar mais do que os homens. Já vivi situações em que tive de trabalhar e me esforçar em dobro, mas uma vez conquistado o espaço, não se perde mais”, garante.

Para ela, as mulheres que ascendem dentro das empresas precisam montar uma rede de apoio para promover mudanças mais significativas. “A verdadeira luta deve acontecer por promover maior diversidade nas empresas. As empresas estão pensando nisso cada vez mais, sobretudo porque os consumidores são mulheres, homens, jovens, idosos”, diz Cindy, que apelida seu estilo de “liderança de 3D”. “Tem que estar na frente liderando, mas há momentos em que tem que estar ao lado acompanhando e, outras vezes, é preciso estar atrás empurrando.”

Mônica Herrero, CEO da Stefanini Brasil

“Ao longo de minha carreira, nunca me preocupei se existiam diferenças entre os gêneros”, declara Mônica, que sempre atuou com tecnologia da informação, um setor majoritariamente composto por homens. Porém, o diagnóstico da executiva é o de que as mulheres não podem subestimar suas capacidades. “Nós somos educadas desde pequenas a não correr riscos. Por isso, muitas vezes ficamos esperando que alguém venha e nos puxe. Os homens, por outro lado, costumam negociar e se posicionar um pouco mais.”

Além disso, ela defende a luta contra os rótulos de que determinadas áreas são mais masculinas e outras femininas. “As mulheres também podem ocupar com excelência as posições de áreas mais técnicas. Para isso, temos que incentivar maior presença feminina em cursos de formação de exatas e de tecnologia”, acredita.

Adriana Auriemo, sócio-diretora da Nutty Bavarian Brasil

Certa vez, Adriana foi convidada para falar sobre participação feminina em um evento da Associação Brasileira de Franchising (ABF), da qual faz parte da diretoria. “Eu me lembro de ter pensado ´que bobagem! Tem tanta mulher dona de empresa, liderando`. No mesmo dia, fui a uma premiação de franquias e me assustei por não ter nenhuma mulher entre os vencedores”, relata.

Além de montar uma boa equipe e procurar apoio de pessoas competentes, a dica da empreendedora é não tentar “abraçar o mundo” e, em vez disso, potencializar o lado forte e encontrar o equilíbrio para os pontos fracos. “Antigamente eu me cobrava muito por não saber cuidar tão bem da parte financeira e até me perguntava se o fato de ser mulher me atrapalhava nisso. Com o tempo, percebi que tudo isso é bobagem e que ter uma boa equipe com você é o que faz a diferença.”

Sônia Regina Hess, presidente da Dudalina

Filha da fundadora da marca, com mais de 100 lojas no Brasil e no mundo, a empresária afirma que nunca sofreu preconceito em sua trajetória profissional, já que movia um negócio familiar. De maneira geral, ela adota postura mais otimista. “Eu percebo que há um grande movimento das empresas para colocar mais mulheres na alta gerência, na direção e até mesmo em conselhos. Mas a diversidade vai além e tem que se refletir também em negros, homossexuais e qualquer tipo de diversidade”, diz.

Ela, que define como principal ponto do seu estilo de liderança o cuidado com o outro e gosto por pessoas, se diz otimista em relação às mudanças. “Mulheres são as maiores consumidoras e dominam várias áreas. Acho que as empresas estão começando a perceber isso. A prova é a quantidade de capas de revista de negócios que vejo estampadas por mulheres. Mas não podemos esquecer que o mais importante para uma empresa é misturar expertise.”

Mônica Burgos, fundadora da Avatim

Confiança e persistência foram as palavras que sempre guiaram a advogada criminalista nascida em Itabuna, no sul da Bahia. Das vendas de porta em porta, ela ganhou importância no mercado de aromatizantes e, hoje, a Avatim tem lojas em mais de 22 estados e mais de 40 toneladas de produtos vendidos por mês.

Para ela, é preciso se fortalecer de dentro para fora. “Eu sou da opinião de que a gente tem de parar de botar a culpa na sociedade e acreditar mais na força da palavra. Eu, por exemplo, me olho todos os dias no espelho e digo que consigo, que sou a melhor no que faço”, diz ela, garantindo que o reforço diário é transformador.

 

Época Negócios – Andressa Basilio – 13/12/17

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