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Carlos Wizard volta às aulas

23/05/2017

Istoé Dinheiro – Carlos Eduardo Valim – 12/05

Ao desembolsar R$ 200 milhões por 35% da Wise Up, de Flávio Augusto da Silva, o bilionário curitibano retorna ao setor de educação com planos ambiciosos: consolidar o mercado e, por que não, conquistar o mundo

Um dos pontos mais delicados do processo de venda do grupo Multi, dono da escola de idiomas Wizard, por quase R$ 2 bilhões, para o grupo britânico Pearson, em 2013, girou em torno da cláusula de não competição. Os ingleses queriam estabelecer um período de 10 anos para a volta ao setor de educação do empresário e professor paranaense Carlos Wizard Martins, que acrescentou à sua própria assinatura, por sugestão de uma franqueada, a marca da rede que havia criado em 1987.

Mas o seu filho Charles Martins insistia que o pai deveria estabelecer um prazo de apenas três anos. Um exímio negociador de contratos, ele sabia do que estava falando, tendo se especializado em aquisições e fusões durante os anos de expansão do grupo Multi, entre 2007 e 2013, quando costurou as compras das redes Yázigi e Skill e das escolas profissionalizantes Microlins e SOS Computadores. O desejo da Pearson de entrar no negócio era tão grande, na mesma medida da irredutibilidade de pai e filho, que o negócio acabou fechado.

Em fevereiro deste ano, o período de três anos venceu. E Wizard voltou rapidamente ao setor que o consagrou. Ele reservou a segunda-feira 15, mesmo dia do lançamento de seu terceiro livro, Do Zero ao Milhão, para anunciar o seu retorno às escolas de idiomas. Wizard e seu filho Charles pagaram R$ 200 milhões por 35% da rede Wise Up, especializada em ensinar inglês para adultos, do empresário carioca Flávio Augusto da Silva, outro mito do setor. E esse parece ser só um recomeço de um sonho ambicioso.

“Não vamos parar por aqui”, diz Wizard com exclusividade à DINHEIRO.“O jogo é muito maior. Temos fôlego para aquisições.” A holding de investimentos de Wizard, a Sforza, terá 30% do negócio e a Santorini, empresa que combina os investimentos próprios de Charles, ficará com 5%, como uma premiação por sua participação em todo o período de negociação. As conversas ocorreram com objetividade, em Orlando, na Flórida, a partir da primeira semana de março, e em clima de cordialidade e bom humor, contam os envolvidos.

Pai e filho terão assentos no conselho de administração da Wise Up, juntamente com Silva, que permanecerá como o CEO. E quem conhece Wizard sabe que o investimento deve funcionar como uma porta de reentrada no segmento, e que ele não vai se contentar com a posição atual. O empresário tem recursos para planos bastante ambiciosos. Desde que embolsou mais de R$ 1,5 bilhão pela venda de sua fatia de 78% no grupo Multi, ele transformou a Sforza num dínamo de fazer negócios.

Todos os seus oito ativos combinados devem superar o valor de R$ 2 bilhões, até 2018, praticamente dobrando de tamanho em relação aos ativos que detinha em 2013, antes da venda do Multi. O desejo de voltar ao setor continuou forte durante os anos fora do negócio das salas de aulas, e agora Wizard pode ameaçar a liderança da rede que ele fundou e vendeu quando tinha três mil unidades. “Levei 25 anos para chegar a uma rede de mil unidades, e agora vamos fazer o mesmo em três anos”, afirma.

A Wise Up possui 280 escolas, no momento. Mais do que triplicar de tamanho até 2020, a rede promete criar 15 mil empregos. A expansão virá numa combinação de crescimento orgânico e aquisições. “Temos planos de longo prazo”, diz Flávio Augusto da Silva, da Wise Up. E uma consolidação de mercado conduzida pela empresa não deve demorar muito para acontecer. Charles, junto com o irmão gêmeo, Lincoln, está à frente das negociações para adquirir outras redes, as quais prefere não revelar.

O foco são cursos de idiomas, mas Charles não descarta, no futuro, buscar marcas de outros cursos livres e empresas detentoras de tecnologia para a educação. “Rapidinho vamos consolidar o setor”, diz ele. “Há oportunidades em redes que estejam nas mãos de fundos de private equity que precisam buscar a saída para seus investimentos. Eles vão nos procurar por verem um grupo forte, com agressividade, apetite e capacidade de assinar o cheque”. Nem a Wise Up, nem a Sforza possuem endividamento.

Wizard e Silva também serão beneficiados por não precisar enfrentar a concorrência de grupos estrangeiros de educação, que deixaram de buscar, nos últimos anos, o mercado brasileiro para fazer negócios. É difícil duvidar dessa dupla, que demorou quase uma década para ser formada. Os dois empresários se aproximaram em 2008, quando Wizard ofereceu R$ 200 milhões para comprar a Wise Up. “Ela era a empresa que mais matriculava alunos no setor, e o Multi havia criado um modelo que mantinha os alunos satisfeitos e sem abandonar as aulas, uma dificuldade no setor”, diz Wizard. “Juntos, seríamos uma fórmula matadora.”

O negócio não foi concretizado, mas ambos dizem que, das conversas, nasceu uma empatia forte e uma amizade. Duas novas tentativas de aquisição aconteceram. Em 2010, uma nova investida avaliava a empresa de Silva em R$ 700 milhões, e, em 2012, em R$ 1 bilhão. Mas a Wise Up acabou vendida no ano seguinte, por R$ 900 milhões, para a Abril Educação, que depois foi rebatizada como Somos Educação. Seis meses depois a Pearson comprou o grupo Multi. E os dois empresários deixaram o setor.

Silva partiu para outros negócios. Comprou o time de futebol Orlando City, que logo ascendeu para a MLS, a principal liga de futebol profissional dos EUA, contratou o meio-campista Kaká e ainda investiu US$ 153 milhões na construção de um estádio próprio. Também criou a meuSucesso.com, uma escola online de empreendedorismo que já conta com mais de 150 mil alunos. Mesmo assim, voltou ao ensino de idiomas. Fez isso com uma tacada de mestre. Ele recomprou a Wise Up, em 2015, por R$ 390 milhões.

É um feito e tanto, mesmo para alguém que é reconhecido com um craque de vendas. Adicionando a sua fatia vendida nessa semana, Silva tem um saldo positivo de R$ 700 milhões entre compras e vendas, e ainda manterá o controle de 65% da empresa. “Vendi na alta e recomprei na baixa”, diz. O motivo para isso é que, em parte devido à crise econômica, a Wise Up perdeu valor enquanto não esteve sob o seu comando. No ano passado, ele tratou de corrigir a situação.

Recontratou os mesmo diretores, de sua confiança, que haviam sido demitidos pelo dono anterior, e se voltou para o resgate da cultura antiga de aulas e de atração de alunos. Em seu retorno, sentiu que a empresa havia perdido a agressividade na busca de novos inscritos, que era baseada em comunicação e numa forte equipe de vendas. O foco no público executivo também ficara em segundo plano. Agora, até o visual do logotipo foi recuperado. Quando foi vendida, a Wise Up contava com 396 escolas, e, ao ser recomprada, anotava 250 unidades.

Até o fim deste ano, serão 320. Isso se não houver nenhuma aquisição. A relação com os franqueados estava estremecida. “Eu e Wizard sabemos que eles precisam ser tratados como parceiros e não como funcionários”, diz Silva. “Não se administra uma rede de franquias com planilhas de Excel.” Agora, ambos encontram um mercado abatido pela crise econômica e pela alta taxa de desemprego, mas que acreditam ser de ainda grande potencial. Estima-se que apenas entre 2% e 4% dos brasileiros falem inglês.

Na volta ao setor deverão ter como maior rival o grupo Pearson, com as bandeiras adquiridas de Carlos Wizard. Também possuem grande porte as redes ligadas à Fundação Fisk, com mais de mil unidades para as marcas Fisk e PBS, além da CCAA, do empresário Waldyr Lima, que possui 800 escolas. “Com a economia melhorando um pouquinho, o setor vai voltar a bombar”, afirma Marcelo Cherto, especialista em franquias.

As redes de educação brasileiras perderam mais de mil unidades no ano passado, fechando 2016 com um total de 14,6 mil escolas, segundo Associação Brasileira de Franchising (ABF). E, mesmo assim, faturaram 5,2% mais, somando R$ 10,5 bilhões (ver quadro ao final da reportagem). “Na medida que o setor público não consegue entregar educação para as pessoas, as redes com bons métodos conseguem prosperar”, diz Altino Cristofoletti, presidente da ABF. “E o setor de escolas de idiomas é um dos mais maduros da história das franquias no País. As redes Yázigi e CCAA foram formadas na década de 1960.”

O setor pode estar maduro o suficiente para alçar voos internacionais. A Wise Up tem unidades na Colômbia, na Argentina, no Chile e no México. Mas a chegada de Wizard ao negócio pode indicar ambições bastante maiores. Wizard antecipou ao Programa MOEDA FORTE, que estreia na TV DINHEIRO, na segunda-feira 15, que, no último mês, o empresário chinês Yu Minhong, fundador rede New Oriental, esteve em São Paulo e jantou com ele. Foi o encontro dos empreendedores que criaram as maiores escolas de idiomas da China e do Brasil.

“Ele brinca que eu sou o Yu Minhong brasileiro e eu digo que ele é o Carlos Wizard chinês”, diz o curitibano. Cotada desde 2006 na Bolsa de Valores de Nova York, a New Oriental possui mais de 26,6 milhões alunos matriculados e um valor de mercado superior a US$ 10 bilhões. O encontro deixou o embrião de uma ideia de parceria internacional. “Estamos conversando para criar uma rede global de ensino”, disse Wizard para o MOEDA FORTE, apresentado pelo redator-chefe da DINHEIRO, Carlos Sambrana.

A Wise Up, dessa forma, tem um mundo aberto pela frente. Além dos contatos chineses de Wizard, o seu novo sócio também possui um bom trânsito internacional, como provam os seus negócios na Flórida, onde mora. Depois de vender a Wise Up, o plano de Silva era passar um período sabático, o que não aconteceu, já que resolveu investir no Orlando City. Também na dificuldade de cumprir os seus planos de descanso, as trajetórias de Silva e Wizard são similares. Assim como o seu novo parceiro de negócios, Wizard havia programado um ano parado para renovar as energias, mas não também não cumpriu esse objetivo.

Acabou diversificando os seus negócios e agora a holding Sforza é composta por oito negócios (leia quadro). Comprou, em 2014, a rede de varejo de produtos naturais Mundo Verde. E, logo, ela passou a crescer aceleradamente. Responsável por 40% das receitas do Sforza no ano passado, ela faturou R$ 530 milhões. O plano é expandir das atuais 400 unidades para 800, até 2020. Wizard também entrou em campo nos negócios relacionados ao esporte mais popular do mundo, criando a Ronaldo Academy, com o ex-jogador Ronaldo “Fenômeno”.

Trata-se de uma rede de escolinhas de futebol que já está presente em cinco países. Ela deve fechar este ano com 100 unidades. Na mesma seara, o empreendedor ainda adquiriu as marcas de vestuário e material esportivo Topper e Rainha, que pertenciam à Alpargatas, e que estão sendo reposicionadas. Já numa linha de investimento menos ligada à boa saúde, trouxe, no ano passado, ao Brasil a rede americana de comida mexicana Taco Bell, com um aporte de R$ 100 milhões. O objetivo para este ano é atingir o número de 20 unidades, para cumprir a meta de 100 restaurantes, até 2020.

Mas, mesmo com tantos negócios atraentes em sua carteira, Wizard, aos 60 anos de idade reconhece que a sua grande paixão sempre esteve na educação. “As pessoas pensam que eu quero ganhar mais dinheiro, mas essa não é a minha motivação”, afirma. “Gosto de ajudar as pessoas a realizarem os seus sonhos.” Isso, para ele, envolve ensinar as pessoas um novo idioma ou dar lições de empreendedorismo, retirando alguns obstáculos para que tenham sucesso.

É o que pretende voltar a fazer com o retorno ao setor que lhe deu fortuna. Mas, ao realizar o investimento na Wise Up, surge um problema que Wizard ainda não conseguiu solucionar. Ele carrega no sobrenome a marca de uma bandeira concorrente. Em seu novo livro, ele brinca que poderia passar a assinar como Carlos Wise Martins. “Agora, estou com um problemão”, diz, com humor. “Talvez tenha de comprar a Wizard de volta.”

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